sábado, 9 de julho de 2011

De Jakob Berzelius ao Big Brother. Um discurso sobre a transformação dos padrões morais da sociedade brasileira a partir do início da televisão no Brasil.

     
           Quando o sueco Jakob Berzelius, em 1817, descobriu que o Selênio tinha a propriedade de transformar a energia luminosa em energia elétrica, e o inglês John Baird usou esse princípio para fazer a primeira transmissão de imagens de objetos, em 1923, e de fisionomias humanas, em 1924, em uma caixa que ele chamou de televisão não se imaginava ,ainda, o que aquela invenção viria a se tornar.

           No Brasil, a televisão, teve seu início em 18 de Setembro de 1950 trazida por Assis Chateaubriand. Ele fundou o primeiro canal de televisão no país, a TV Tupi. Na década de 50 a televisão passava por sua fase experimental, tudo era feito ao vivo, a programação era improvisada e eram raras as casas que possuíam um televisor. Chateaubriand teve a idéia de espalhar 200 aparelhos em pontos estratégicos da cidade de São Paulo. Contudo para conseguir realizar seu projeto, Chateaubriand, teve que fazer uso de sua grande influência para autorizar a entrada dos aparelhos importados que, por problemas alfandegários, atrasariam o início das transmissões. Veja só, será que foi já com o "pai" da televisão brasileira que começou a transformação que a tornaria o que é hoje?

          Nos anos 60 o mundo passava por várias mudanças. Mudavam-se os costumes com a revolução sexual, os limites do homem com a chegada à Lua,  alcançou-se o ápice da guerra fria, iniciava-se a Guerra no Vietnã e uma nova querela entre as potências, a Crise dos Mísseis de Cuba. E no meio de tudo isso estava aquela caixinha brilhante que levava aos olhos e aos ouvidos das pessoas, quase que instantâneamente, as transformações dessa época. No Brasil surgiam outras emissoras como a TV Globo, mais tarde Rede Globo, a TV Bandeirantes e a TV Excelsior. Essa última é responsável por revolucionar o que havia até então, a Excelsior criou uma programação que industrializava seus produtos televisivos e tinha como base a produção  de teledramaturgia. Pois é, não foi a Globo que inventou essa coisa de telenovela que hoje recebe grande parcela da culpa de desviar a moralidade. Então, a culpa é da TV Excelsior?

           Anos 70. São noventa milhões em ação, vai pra frente Brasil. Pra frente de que? De quem? Ah, sim! Dos adversários na Copa do Mundo do México e da televisão que, agora, chega aos olhos das pessoas colorida. Aquela caixa de tela monocromática, que a todos já fazia parar à sua frente, ganhou cores e aumentou ainda mais o fascínio que exercia nos telespectadores. As emissoras descobriram outra coisa, além das novelas, que prendia o público em frente a telinha, o futebol. A TV Globo e a Tupi lideravam a audiência, mas aquela que introduziu a televisão no país vivia passando por crises internas que acabaram fazendo  da Globo, que já apresentava um alto padrão técnico, a primeira opção de milhões de brasileiros. E aí as novelas de grande apelo popular ganharam força, seus programas jornalísticos como Jornal Nacional, o Fantástico e o Globo Repórter se popularizaram e se tornaram os principais formadores da opinião pública.  Sendo assim, por competência e obra do destino, ao alcançar o patamar de influência a que chegou, a Globo é mesmo a culpada pelas mudanças morais que a sociedade brasileira sofre?

          A Rede Tupi chega ao seu final, em Julho de 1980, quando por decisões do governo não mais consegue manter-se em atividade. Desse fato surgem duas novas emissoras, o SBT e a Rede Manchete. A primeira aderiu à uma proposta mais popular, enquanto a segunda à uma programação para um público de maior escolaridade. O período era de ditadura, a TV Bandeirantes por ter noticiado a greve de 1983 teve seus transmissores lacrados por quinze horas. As emissoras tinham que adequar constantemente sua programação de acordo com a censura. Como hoje, as emissoras de tv, mordiam e assopravam o atual governo tanto que, em 1984, a Rede Globo evitava transmitir os comícios das Diretas Já, e viu sua audiência migrar para outros telejornais. O interessante é que só em abril daquele ano, quando já se mostrava inevitável a instituição das eleições diretas, a Rede Globo passou a transmitir os comícios. A saber, a emenda foi votada e aprovada no dia 25 de abril daquele mesmo mês. Você aprendeu que o maior ou o mais velho tem que dar exemplo aos demais. Então a Globo é mesmo a culpada?

          Na década de 90 a censura se tornou mais branda e a disputa pela audiência acirrou-se. As outras emissoras aprenderam a fazer novela, lembra de Pantanal? Surgem os jornais sensacionalistas como o Aqui e Agora. O SBT importa cada vez mais as melodramáticas novelas mexicanas. Os programas de auditório ganham força e aprendem a usar a carência dos menos favorecidos para ganhar audiência. A MTV Brasil é inaugurada e abre mais as portas dos lares brasileiros para a influência da cultura americana. Um líder religioso começa a utilizar a força da rede de televisão que adquiriu, em 1989, para divulgar sua doutrina e aumentar seu patrimônio. A TV Cultura luta praticamente sozinha por uma programação mais educativa. O surgimento da tv por assinatura dominada pelos grupos Abril e Globo começa a ganhar força. O plano real aquece a economia e facilita a entrada de mais aparelhos televisores nos lares brasileiros. E o empresário Amilcare Dallevo inaugura a RedeTv! com uma programação popular e jovem, mas seguindo as tendências da época. E agora? Já é possível apontar um culpado?

          Chegamos ao século XXI e o problema só piorou. No início da década a televisão brasileira apresentou à população aquilo que faltava para esfacelar de vez a moral e ética, a cereja do seu bolo podre, os reality-shows. É um tal de BigBrother, Casa dos Artistas, No Limite, O Aprendiz, A Fazenda e tantos outros que são apresentados nas diversas emissoras e que fazem parece normal ficar em frente ao televisor vendo pessoas se agredirem moralmente por um prêmio em dinheiro e uma fama instantânea. As novelas atuais que, segundo seus autores, mostram a vida como ela é, vão além de só apresentar o cotidiano das pessoas. Ela passaram a distorcer valores morais e éticos. Passaram a propagar mensagens que desvirtuam os pilares sociais, afinal, em novelas traições conjugais são absolutamente normais, chega a parecer que até incentivam. Jovens meninas aprendem que fazer sexo é tão natural quanto escovar o cabelo, ruim é ser diferente se não perder a virgindade logo. Os telejornais não apresentam a notícia com total veracidade, sempre fica algo por explicar, isso quando não distorcem a verdade. Se tudo que eu disse antes não é nenhuma novidade, já podemos então apontar quem é ou quem são os culpados de estarmos nessa situação?

           Sim. É você. Sou eu. Fomos nós que cavamos esse buraco e nos enfiamos dentro. Tudo bem, tá certo que não depende somente de nós montar a programação da televisão, mas aquela caixinha brilhante precisa de duas coisas básicas para funcionar, energia elétrica e que alguém aperte o botão de ligar. Não temos o poder de escolher o que vamos assistir, mas podemos escolher o que não vamos assistir. A televisão se tornou o que é hoje, pelo simples motivo das pessoas optarem por se conformarem com o que as emissoras colocam na sua grade de programação. Todo mundo reclama do Faustão, mas o programa dele continua líder de audiência e, somente porque, ao invés de no domingo à tarde nós pegarmos nossos filhos e levá-los ao zoológico, por exemplo, nos satisfazemos em ficarmos, como o próprio diz, deitados no sofá ouvindo suas besteiras.
          
            Vai dizer que você, mesmo sabendo da corrupção no futebol, ainda não se dispõe a ficar em frente à televisão se comportando como um louco quando seu time está perdendo um jogo, ou, que não quer saber se o Léo vai sofrer ainda mais na mão da Norma? É preciso colocar o dedo na própria ferida e admitir que a culpa pelo que a sociedade está se transformando não é só da televisão, porque assistir ao que as emissoras apresentam é como comprar um produto qualquer, é uma escolha nossa.

         

Um comentário:

  1. Gostei muito deste ultimo post. É um tema bem atual e mostra que o poder está em nós telespectadores mudar essa situação. Afinal nesse mundo televisivo o que manda é um tal de "ibope". O controle é nosso! Mas como existem várias opções, cabe agente a escolha e garimpar o que realmente seja de grande valia para cultuar o que entra em nosso lar.

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