sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Um Instituto, um projeto


          A consolidação do Estado Nacional foi desde a independência uma das prioridades da Monarquia do Brasil por isso, em 1838, foi criado o instrumento que ajudaria a definir a Nação brasileira através da produção historiográfica. O IHGB, Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, nasceu dentro da SAIN, Sociedade Auxiliadora da Indústria Nacional, com a proposta de “dar conta de uma gênese da Nação brasileira, inserindo-a, contudo, numa tradição de civilização e progresso, idéias tão caras ao iluminismo”¹. Diferente da Europa onde a produção historiográfica era feita dentro das universidades por aqueles que se especializavam nas áreas da história, no Brasil o espaço da historiografia era o de uma academia de elitistas escolhidos a partir de relações sociais, os quais eram, responsáveis por produzir a história do Brasil e seus heróis.
 O desenvolvimento do trabalho do IHGB girava em torno de duas diretrizes: a coleta e publicação de documentos importantes para a história do Brasil e o ensino público, de estudos de natureza histórica. Ficou claro que, além de produzir a historiografia do Brasil, o IHGB buscaria contribuir para a consolidação da Nação quando, em 1º de dezembro de 1838, ele foi colocado sob a proteção do imperador D. Pedro II. Ainda que o instituto não fosse encarado como uma instituição oficial por seus membros, a contradição surgia quando esses mesmos desempenhavam funções no Estado. O Estado era decisivo para a sustentação do instituto e este, por sua vez, seria fundamental aos interesses do Estado. “Escrever a história brasileira enquanto palco de um Estado iluminado, esclarecido e civilizador, eis o empenho para o qual se concentram os esforços do Instituto Histórico”¹.

          A relação do IHGB com o Estado ficou mais estreita quando os novos estatutos definiram o imperador como seu protetor, função antes desempenhada pelo SAIN. Além da coleta de documentos o imperador passou a incentivar a produção histórica, pois o conhecimento histórico legitimaria e garantiria as decisões políticas. A Revista do IHGB abriu espaço para as biografias que serviriam como exemplos para as futuras gerações “contribuindo desta forma, também, para a construção da galeria de heróis nacionais”¹. A partir da sua sede no Rio de Janeiro outras instituições seriam criadas nas demais províncias para concentrarem os conhecimentos sobre o Brasil e enviarem todos os documentos publicados à capital do império. A ligação política entre o IHGB e o Estado era muito clara. O imperador financiava expedições pelo interior do Brasil com a função de coletar dados que pudessem ser usados para escrever a história da nação, principalmente material que fornecesse informações sobre os indígenas. Contudo, outra função era desempenhada por essas expedições a de identificar o Brasil integrando novas áreas para a agricultura, descobrindo riquezas minerais, reconhecendo as fronteiras, ou seja, promovendo a “interiorização da civilização”¹. Entretanto, a produção de um saber sobre o Brasil era mais importante do que fatos de natureza política.



          A revista trimestral do instituto foi de fundamental importância para as ambições da instituição, pois além do registro das atividades do IHGB e de divulgar cerimônias e atos comemorativos, ela abriu espaço para a publicação de fontes primárias como artigos, biografias e resenhas de obras. Os três temas de maior abordagem no periódico do instituto eram: a problemática do indígena, as expedições e viagens científicas e o debate da história regional. O índio ocupava o maior destaque na revista, pois buscava-se nele um símbolo que representasse a nacionalidade brasileira a fim de propagar nas demais províncias um forte conceito de nação. A viabilidade de a nacionalidade brasileira ser representada pelo indígena era um tema de forte discussão no IHGB. As ameaças à soberania do Estado estavam identificadas pelos “outros” (índios e negros) e pelas repúblicas vizinhas. Nesse contexto a solução para os problemas estava exatamente em um deles, o índio. Dessa forma era função do Estado civilizar o índio já que “assegurar o controle sobre as populações indígenas fronteiriças significava garantir o poder do Estado Nacional sobre esse espaço”¹. Outro tema discutido era a questão do trabalho no Brasil, nas discussões culpava-se a escravidão como responsável pelo atraso na civilização e apontavam como solução para esse problema, mais uma vez, o índio que, depois de civilizado, poderia substituir a mão de obra escrava. Em relação às expedições, como já foi dito, por atender tanto aos interesses históricos quanto políticos mereciam destaque nas publicações da revista. O grande interesse na história regional estava atrelado ao problema das fronteiras, pois apesar de definir todas as regiões como igualmente importantes, as publicações enfatizavam regiões como a colônia de Sacramento, a fronteira com a Guiana Francesa e a fronteira do Mato Grosso devido à necessidade de integrá-las ao poder Nacional de forma mais contundente.

          Percebe-se que o IHGB foi um instrumento de fundamental importância para a construção de um projeto nacional, suas publicações serviam tanto para o registro da história do Brasil, quanto para fomentar o crescimento do nacionalismo. Mas, o mais importante é perceber que a nossa história foi produzida pela mesma elite que hoje mantém uma educação pública de má qualidade, e aí fica fácil de identificar o porquê de no ensino básico e fundamental se ensinar uma história que ou esconde ou não revela a totalidade dos fatos nos dando “heróis” como um Duque de Caxias que quase acabou com a população do Paraguai, ou um D. Pedro I que de defensor perpétuo do Brasil só tinha o nome. É preciso incentivar o trabalho dos novos historiadores e promover uma reforma na historiografia brasileira.

¹ GUIMARÃES, Manoel Luiz Salgado. Nação e civilização nos trópicos: o Instituto Histórico e Geográfico e o projeto de uma história nacional. Estudos Históricos, nº 1, 1988.

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