terça-feira, 19 de julho de 2011

Quem descobriu a América foi...

   A palavra que falta ao título é Colombo. Certo? Seria, mas de acordo com Garcia Redondo essa história não está bem contada. Membro fundador da Academia Brasileira de Letras, Garcia Redondo foi formado em engenharia, foi jornalista e também professor. Em 1911, durante a primeira conferência organizada pelo Centro Republicano Português de São Paulo, apresentou seu discurso sobre a questão da descoberta da América.

   Com o título original "O Descobrimento do Brazil -  Prioridade dos Portuguezes no Descobrimento da América" e baseado no livro "A Descoberta do Brazil" de Faustino da Fonseca, Garcia Redondo apresentou fatos que comprovariam que não foi Cristovão Colombo que descobriu a América e tão pouco Pedro Alvares Cabral teria descoberto o Brasil, mas esse ultimo ficará para outra oportunidade. Vamos aos fatos que segundo G. Redondo provam que a glória do descobrimento da América foi usurpada dos portugueses. Os  fatos seriam os seguintes:
  • 1436 - André Bianco registra em suas cartas e no seu portulano (antiga carta náutica Européia) as descobertas da Antilia (Brasil), Mar de Braga e Mar de Sargaços;
  • 1447 - Um navio parte do Porto e vai até a Groenlândia onde os marinheiros desembarcaram;
  • 1448 - André Bianco registra nas suas cartas a existência do Brasil à distância de 1500 milhas compreendidas entre as ilhas de Cabo Verde e o Cabo de São Roque;
  • 1452 - Diogo de Teive e seu filho João descobrem a Ilha das Flores e chegam a latitude da Terra do Lavrador região noroeste da América do Norte;
  • 1472 - Descobre João Vaz de Corte Real a Terra de João Vaz, ou Terra Nova, ou Terra dos Bacalhaus, na América do Norte;
  • 1473 - 1484 - Afonso Sanches descobre as Antilhas;
  • 1487 - Viagem à América de Fernão Dulmo e João Affonso Estreito, acompanhados de Martim Behaim, que registrou, depois, no globo terrestre que construiu e no mapa erário real português, a existência da península da Flórida, das Antilhas e do Golfo do México;
  • 1492 - Descoberta, entre 30 de janeiro e 14 de abril, da terra do Lavrador, por João Fernandes Lavrador e Pedro de Barcellos.
    A primeira viagem de Colombo só foi realizada em 3 de agosto de 1492. Então por que a glória do descobrimento da América foi dada a Colombo?  Primeiro temos que entender quem foi e o que fez Cristovão Colombo.  Nascido em 1450, em Genoa, filho de operários, exercia a profissão de tecelão e até os 23 anos de idade sabia apenas ler e escrever sem que, até então, tivesse tido contato com práticas náuticas. Mudou-se para Savone onde abriu uma taverna, mas a sorte não lhe foi favorável. Em 1473 foi para Portugal e fixou-se na ilha da Madeira , onde ainda viria a se casar com a filha de um marujo chamado Bartolomeu Perestrelo, já falecido. Nos documentos, instrumentos e mapas do sogro começou a aprender sobre náutica e tomou conhecimento da localização exata das Antilhas quando em sua hospedaria esteve Afonso Sanchez, que foi quem as descobriu.

     Estes episódios são relatados por Bartolomeu de Las Casas, amigo e companheiro de Colombo, em seu livro "Histórias das Índias" que ainda diz: 
"eram instrumentos e escritos e pinturas (cartas e mapas), convenientes à navegação, os quais deu a sogra ao dito Colombo, que com vista deles muito se alegrou"
     E acrescenta:
"com estes se crê haver sido instigada a sua natural inclinação"
   No entanto ainda faltava a Colombo a prática da navegação e essa foi obtida quando se propôs a acompanhar navegantes portugueses que se dirigiam à África. Foi em Portugal que Colombo aprendeu a navegar e teve conhecimento exato das terras do ocidente. E depois de adquiridos esses conhecimentos teve  a idéia de descobrir o caminho para a Índia pelo ocidente, encontrando a terra antes descoberta por Afonso Sanches.

     Para realizar o seu feito procurou o apoio do rei D. João II que recusou seu pedido por já saber o que havia no ocidente, levando o genovês a bater às portas de Castela. E munido dos mapas e documentos copiados de Portugal, Colombo, mostrou aos reis de Castela que não partiria para descobrir novas terras e sim para tomar posse para a Espanha de terras antes descobertas pelos portugueses. Colombo estava muito endividado e precisava sair de Portugal e achar recursos que o ajudassem a resolver seus problemas financeiros.

     O rei de Portugal escreveu uma carta a Colombo solicitando seu retorno ao país, garantindo-lhe que ele não seria preso ou mal tratado por suas dívidas. E de posse dessa carta ele volta a Portugal e oferece ao rei seus serviços e D João II aceita, não para aproveitar-se dele, mas para tentar impedir que por meio dele Castela se apropriasse das terras que a Portugal já pertenciam. Os reis de Castela já haviam dado a Colombo a quantia de 14 mil maravedis em 1487, mais 3 mil pouco depois e outros 3 mil em junho de 1488. O grande descobridor explorou o apoio dos dois reinos até obter a aparelhagem necessária para realizar sua empreitada. Prova disso é, também o fato, que na Espanha assinava Colon e em Portugal e Itália como Colombo.

    A Espanha resolve assinar um tratado com Colombo e o fornece as três caravelas que ele usaria para cruzar o Atlântico. Entre os termos do acordo estavam as seguintes vantagens: receberia o grau de cavaleiro da espada dourada, os cargos de almirante mor do mar oceano, de vice-rei e governador das terras que descobrisse, a décima de todas as rendas, e o direito de concorrer com o oitavo das despesas de todas as frotas recebendo o oitavo dos lucros. Muito diferente dos precursores portugueses que equipavam por conta própria as caravelas e ofereciam ao rei de Portugal as terras descobertas sem pedir favor em troca.

    Não contente com o que já havia conseguido, o grande Colombo, angariou para si a quantia de 10 mil maravedis de uma cláusula do tratado que dizia que tal valor seria dado ao primeiro marinheiro que anunciasse terra ao comandante. O marinheiro Rodrigo de Triana foi quem conseguiu ver primeiro a terra, mas ao anunciar ao capitão Colombo este afirmou que na noite anterior já havia visto uma luz e que portanto a prioridade era dele. Esse Colombo!

   Muitos que estudaram a vida de Cristovão Colombo enaltecem sua caridade cristã, mas esquecem de mencionar que na sua primeira viagem as Antilhas nem padre ele levou, que ao chegar ao golfo de Samaná atacou os indígenas em um brutal derramamento de sangue, que como não pôde enviar aos reis de Castela metais e pedras preciosas ou riquezas em especiarias, enviou à Espanha navios carregados de escravos para serem vendidos e com o preço pagar as despesas da viagem.

   Durante o tempo que governou a Hispanhola, 1493 a 1496, onde hoje é o Haiti, exterminou um terço da população nativa e quando Pedro Margarite reconheceu a ilha de Cuba ordenou que mutilasse os indígenas  que lá encontrasse e, ainda, ordenou a Hojeda que fosse prender o cacique Cahonaboa dando-lhe instruções que o atraísse para uma armadilha. Essa era a cristandade de Colombo.

   Nem seus financiadores concordaram com a conduta de Colombo e em seu retorno da segunda viagem à América o submeteu a um tribunal e quando ele regressou da terceira, após dois meses de prisão, mandou que viesse a bordo preso a uma grilheta, como se fosse um bandido. Colombo morreu em 1506, sempre ignorando que a terra que tomou para a Espanha não era a América e sim a Ásia, e nem depois de morto conseguiu descanso, pois seus ossos andaram de Valladoli para Sevilha, depois para o Haiti, depois para Cuba, de novo, para a Espanha.

   Então por que os portugueses não reivindicaram essa conquista tomando da Espanha as terras apropriadas por Colombo? Porque quando Colombo voltou à Espanha, em 1493, os reis de Castela tinham obtido do papa Alexandre VI a bula pontifícia Inter Caetera que estabelecia que todas as terras descobertas a partir de um meridiano traçado a 100 léguas a oeste da ilha de Cabo Verde seriam de posse da Espanha. Com isso Portugal não podia nem reivindicar as terras descobertas a leste da linha e nem chegar ao seu principal objetivo  que era a Índia. Insatisfeito o rei D. João II foi negociar diretamente com Fernando de Aragão e Isabela de Castela que se aumentassem para 270 léguas para oeste a linha do meridiano o que permitiu reivindicar para Portugal as terras recém-descobertas a leste da linha e ficar com o controle da África , Ásia e o leste do Brasil. A esse acordo realizado em 1494 foi dado o nome de Tratado de Tordesilhas. Essa é, segundo Garcia Redondo, a história do "descobrimento" da América.


sábado, 9 de julho de 2011

De Jakob Berzelius ao Big Brother. Um discurso sobre a transformação dos padrões morais da sociedade brasileira a partir do início da televisão no Brasil.

     
           Quando o sueco Jakob Berzelius, em 1817, descobriu que o Selênio tinha a propriedade de transformar a energia luminosa em energia elétrica, e o inglês John Baird usou esse princípio para fazer a primeira transmissão de imagens de objetos, em 1923, e de fisionomias humanas, em 1924, em uma caixa que ele chamou de televisão não se imaginava ,ainda, o que aquela invenção viria a se tornar.

           No Brasil, a televisão, teve seu início em 18 de Setembro de 1950 trazida por Assis Chateaubriand. Ele fundou o primeiro canal de televisão no país, a TV Tupi. Na década de 50 a televisão passava por sua fase experimental, tudo era feito ao vivo, a programação era improvisada e eram raras as casas que possuíam um televisor. Chateaubriand teve a idéia de espalhar 200 aparelhos em pontos estratégicos da cidade de São Paulo. Contudo para conseguir realizar seu projeto, Chateaubriand, teve que fazer uso de sua grande influência para autorizar a entrada dos aparelhos importados que, por problemas alfandegários, atrasariam o início das transmissões. Veja só, será que foi já com o "pai" da televisão brasileira que começou a transformação que a tornaria o que é hoje?

          Nos anos 60 o mundo passava por várias mudanças. Mudavam-se os costumes com a revolução sexual, os limites do homem com a chegada à Lua,  alcançou-se o ápice da guerra fria, iniciava-se a Guerra no Vietnã e uma nova querela entre as potências, a Crise dos Mísseis de Cuba. E no meio de tudo isso estava aquela caixinha brilhante que levava aos olhos e aos ouvidos das pessoas, quase que instantâneamente, as transformações dessa época. No Brasil surgiam outras emissoras como a TV Globo, mais tarde Rede Globo, a TV Bandeirantes e a TV Excelsior. Essa última é responsável por revolucionar o que havia até então, a Excelsior criou uma programação que industrializava seus produtos televisivos e tinha como base a produção  de teledramaturgia. Pois é, não foi a Globo que inventou essa coisa de telenovela que hoje recebe grande parcela da culpa de desviar a moralidade. Então, a culpa é da TV Excelsior?

           Anos 70. São noventa milhões em ação, vai pra frente Brasil. Pra frente de que? De quem? Ah, sim! Dos adversários na Copa do Mundo do México e da televisão que, agora, chega aos olhos das pessoas colorida. Aquela caixa de tela monocromática, que a todos já fazia parar à sua frente, ganhou cores e aumentou ainda mais o fascínio que exercia nos telespectadores. As emissoras descobriram outra coisa, além das novelas, que prendia o público em frente a telinha, o futebol. A TV Globo e a Tupi lideravam a audiência, mas aquela que introduziu a televisão no país vivia passando por crises internas que acabaram fazendo  da Globo, que já apresentava um alto padrão técnico, a primeira opção de milhões de brasileiros. E aí as novelas de grande apelo popular ganharam força, seus programas jornalísticos como Jornal Nacional, o Fantástico e o Globo Repórter se popularizaram e se tornaram os principais formadores da opinião pública.  Sendo assim, por competência e obra do destino, ao alcançar o patamar de influência a que chegou, a Globo é mesmo a culpada pelas mudanças morais que a sociedade brasileira sofre?

          A Rede Tupi chega ao seu final, em Julho de 1980, quando por decisões do governo não mais consegue manter-se em atividade. Desse fato surgem duas novas emissoras, o SBT e a Rede Manchete. A primeira aderiu à uma proposta mais popular, enquanto a segunda à uma programação para um público de maior escolaridade. O período era de ditadura, a TV Bandeirantes por ter noticiado a greve de 1983 teve seus transmissores lacrados por quinze horas. As emissoras tinham que adequar constantemente sua programação de acordo com a censura. Como hoje, as emissoras de tv, mordiam e assopravam o atual governo tanto que, em 1984, a Rede Globo evitava transmitir os comícios das Diretas Já, e viu sua audiência migrar para outros telejornais. O interessante é que só em abril daquele ano, quando já se mostrava inevitável a instituição das eleições diretas, a Rede Globo passou a transmitir os comícios. A saber, a emenda foi votada e aprovada no dia 25 de abril daquele mesmo mês. Você aprendeu que o maior ou o mais velho tem que dar exemplo aos demais. Então a Globo é mesmo a culpada?

          Na década de 90 a censura se tornou mais branda e a disputa pela audiência acirrou-se. As outras emissoras aprenderam a fazer novela, lembra de Pantanal? Surgem os jornais sensacionalistas como o Aqui e Agora. O SBT importa cada vez mais as melodramáticas novelas mexicanas. Os programas de auditório ganham força e aprendem a usar a carência dos menos favorecidos para ganhar audiência. A MTV Brasil é inaugurada e abre mais as portas dos lares brasileiros para a influência da cultura americana. Um líder religioso começa a utilizar a força da rede de televisão que adquiriu, em 1989, para divulgar sua doutrina e aumentar seu patrimônio. A TV Cultura luta praticamente sozinha por uma programação mais educativa. O surgimento da tv por assinatura dominada pelos grupos Abril e Globo começa a ganhar força. O plano real aquece a economia e facilita a entrada de mais aparelhos televisores nos lares brasileiros. E o empresário Amilcare Dallevo inaugura a RedeTv! com uma programação popular e jovem, mas seguindo as tendências da época. E agora? Já é possível apontar um culpado?

          Chegamos ao século XXI e o problema só piorou. No início da década a televisão brasileira apresentou à população aquilo que faltava para esfacelar de vez a moral e ética, a cereja do seu bolo podre, os reality-shows. É um tal de BigBrother, Casa dos Artistas, No Limite, O Aprendiz, A Fazenda e tantos outros que são apresentados nas diversas emissoras e que fazem parece normal ficar em frente ao televisor vendo pessoas se agredirem moralmente por um prêmio em dinheiro e uma fama instantânea. As novelas atuais que, segundo seus autores, mostram a vida como ela é, vão além de só apresentar o cotidiano das pessoas. Ela passaram a distorcer valores morais e éticos. Passaram a propagar mensagens que desvirtuam os pilares sociais, afinal, em novelas traições conjugais são absolutamente normais, chega a parecer que até incentivam. Jovens meninas aprendem que fazer sexo é tão natural quanto escovar o cabelo, ruim é ser diferente se não perder a virgindade logo. Os telejornais não apresentam a notícia com total veracidade, sempre fica algo por explicar, isso quando não distorcem a verdade. Se tudo que eu disse antes não é nenhuma novidade, já podemos então apontar quem é ou quem são os culpados de estarmos nessa situação?

           Sim. É você. Sou eu. Fomos nós que cavamos esse buraco e nos enfiamos dentro. Tudo bem, tá certo que não depende somente de nós montar a programação da televisão, mas aquela caixinha brilhante precisa de duas coisas básicas para funcionar, energia elétrica e que alguém aperte o botão de ligar. Não temos o poder de escolher o que vamos assistir, mas podemos escolher o que não vamos assistir. A televisão se tornou o que é hoje, pelo simples motivo das pessoas optarem por se conformarem com o que as emissoras colocam na sua grade de programação. Todo mundo reclama do Faustão, mas o programa dele continua líder de audiência e, somente porque, ao invés de no domingo à tarde nós pegarmos nossos filhos e levá-los ao zoológico, por exemplo, nos satisfazemos em ficarmos, como o próprio diz, deitados no sofá ouvindo suas besteiras.
          
            Vai dizer que você, mesmo sabendo da corrupção no futebol, ainda não se dispõe a ficar em frente à televisão se comportando como um louco quando seu time está perdendo um jogo, ou, que não quer saber se o Léo vai sofrer ainda mais na mão da Norma? É preciso colocar o dedo na própria ferida e admitir que a culpa pelo que a sociedade está se transformando não é só da televisão, porque assistir ao que as emissoras apresentam é como comprar um produto qualquer, é uma escolha nossa.

         

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Sabe aquela do português?

           No Brasil quando se fala de Portugal é comum que as pessoas logo façam piadas sobre a inteligência de nossos patrícios. No entanto há quem mais discorde, do que o contrário, dessas ideias. Uma dessas pessoas que viu nos portugueses valores mais altruístas foi Manoel Bomfim um sergipano, pouco reconhecido, o qual dedicarei um texto exclusivo muito em breve.

           É preciso reconhecer e respeitar a história do povo português. Existem traços na sua personalidade que serviram de base para a formação da nação. Chamo sua atenção para a importância que as virtudes daqueles povos formadores de Portugal - Celtas, Lusitanos, Galaícos e Cinetes - juntas às influências que sofreram de povos visitantes - Fenícios e Cartagineses - somadas à união necessária para resistir aos seus conquistadores - Romanos, Suevos, Vândalos, Alanos, Búrios e Visigodos - e incorporando-as às ciências dos Mouros, fizeram com que Portugal realiza-se o obra que mudaria para sempre os caminhos da humanidade.

           O vigor daqueles povos precipitou as idéias de unidade e mostrou-se tão coeso  que, mesmo o poderoso Império Romano ao vence-los não os incorporou como uma conquista, mas como uma província. Mais tarde, veriam os romanos, isso se tornaria um erro maquiavélico. Mesmo os Bárbaros Germânicos, que por ali também se estabeleceram, não conseguiram firmar as muralhas do feudalismo. Mas coube ao sarraceno, ainda que não tivesse a intenção, lapidar aquela pedra bruta e dá-la o refinamento necessário para que aqueles povos conseguissem construir a primeira nação completa, na Europa do século XIV.

           Apesar de bárbaros, os lusitanos, eram mais homogêneos e unindo-se melhor dentro de um grupo conseguiram impor resistência à Roma. Dessa forma desenvolviam-se as virtudes coletivas que, de certa maneira sem diminuir o vigor, alterava o caráter formando uma consciência de disciplina e cooperação social.

           Os portugueses souberam exatamente como condensar ao seu favor tudo o que tinham a disposição e usar esses recursos para iniciar um processo que mudaria todo a história desse povo e do mundo. Segundo Manoel Bomfim:

" Tudo o que parece decisivo para os projetos dos portugueses, existia independente deles: tradições púnicas, sede de conquistas, barcas vinkings, lendas maravilhosas acendendo cobiças, grandes pilotos para todas as travessias... o que não existia era a concordância destas influências sobre um povo de gênio político, unificado no desejo de ser materialmente grande pela riqueza; um povo com virtudes de vontade para transformar esse desejo em necessidade de dominar o mar, como realização de seu destino; um povo levado por chefes com valor de alma necessário para sentir e condensar as tendências e necessidades gerais. Com dirigentes assim a nação forte se realiza. Foi o que aconteceu com Portugal."
           Por empréstimo faço uso das palavras de Santo Agostinho quando ele define: " Querer, é uma operação de Deus, em nós". E muito quiseram os portugueses, tanto que conseguiram ir onde nenhum outro povo teve a ousadia de tentar. O povo das caravelas dominou o Atlântico, contornou a costa da África, estabeleceu uma nova rota marítima para o oriente e controlou o cobiçado comércio com as Índias.

           O portugueses foram precoces na política, deram o primeiro exemplo de monarquia administrativa, valorizaram a coletividade representada na dinastia, contrariando as pretensões da aristocracia. Fora do tempo, os lusitanos, conseguiram o que muitos tentaram sem sucesso. Eles recriaram Roma. Portugal criou o "Império Moderno" e desafiou a todos e por todos foi respeitado.

           Portugal flutuava sobre o mar e sobre o resto do mundo, mas como sempre em sua história as adversidades surgiriam e colocariam, de novo, o pequeno reino à prova. E o povo português mais uma vez mostraria que de tenacidade e pertinência sempre foi formado o seu caráter e o seu espírito. Foi na batalha de Alcácer-Quibir que morreu D. Sebastião e uma boa parte da nobreza, seu sucessor o Rei-Cardeal D. Henrique faleceu apenas dois anos após ter sido coroado. Esses fatos causaram a Crise da Sucessão de 1580 e os portugueses foram obrigados a ter como rei um espanhol, Felipe II. Depois de quase sessenta anos e novamente unidos, pelas virtudes de suas raízes, a nobreza portuguesa conduziu um golpe de estado coroando D. João IV como rei de Portugal.

           No entanto o resultado dos anos sob domínio espanhol foi o enfraquecimento do estado português, como a perda do monopólio comercial com as Índias Orientais. Mas, outra vez, o português soube se erguer e foi buscar nas terras brasileiras os metais e pedras preciosas que impulsionaram novamente sua economia, mesmo que ao custo de uma dependência mercantil com a Inglaterra. Fortaleceu seu comércio com exportações de produtos, como o vinho, e contou com o Marquês de Pombal para impulsionar com reformas mercantilistas o desenvolvimento econômico do reino.

           E, de novo, Portugal chega quase a ruína total, em 1 de Novembro de 1775, num devastador terremoto que destruiu Lisboa e o Algarve.  E mesmo depois daquela manobra política, para muitos uma covardia, do governante português que buscou refúgio na colônia tentando evitar a perda daquilo o que ainda tinham de mais precioso, mesmo abandonando seus súditos ao fio da espada francesa. Mesmo traído por seus governantes o povo português não ficou apático ante a opressão daquelas tropas e levantaram hostes espontâneas, as primeiras a bater definitivamente a loucura do conquistador francês. Era esta a energia que movia os portugueses. E o que levou essa gente tão tenaz e pertinente à decadência?

Manoel Bomfim responde:

" A nação heróica morreu, para efeitos sobre o mundo, porque os seus dirigentes se degradaram, e a reduziram à mesma miséria, em que se lhes mingou o caráter e a inteligência."
          O parasitismo mercantil no qual se deitou Portugal, primeiro no comércio com o oriente e depois no tráfico negreiro conduziu os portugueses ao esquecimento daquelas virtudes iniciais. Em seu processo de expansão ultramarino os portugueses sempre deixaram claro que, acima de qualquer outra coisa, era a mercancia que fazia girar as engrenagens de sua máquina. E até o momento que determinada atividade comercial o satisfazia, Portugal,  transformava o privilégio daquele comércio em extorsão, espoliação e degradação... Degradando-se a ele mesmo. Segundo Bomfim:

" Os governantes se tornaram devoradores e gozadores. O valor humano, decai; reduz-se o intelecto, afrouxa-se o caráter... Mas não diminui a ganância."
            Atualmente Portugal atravessa uma das piores crises de sua história e, novamente por decisões ruins, de governos ruins, tão incompetentes quanto aqueles que , em outrora, conseguiram minar até sua ruína o poderoso Império Português. Diante disso o valoroso povo lusitano é obrigado a gritar por socorro. Mas, ainda, há de reacender, nos atuais portugueses, o espírito de seus antepassados e o vigor, a tenacidade e a pertinência, outra vez, servirão de apoio para reerguer esse país tão importante para a história do Brasil quanto do mundo.
    
            Força Portugal.



terça-feira, 5 de julho de 2011

Viva a sociedade alternativa!

          Você gostaria de viver em uma anarquia? Para muitos a resposta seria "Não" e, talvez, apenas por carregarem consigo o equivocado conceito de que ANARQUIA=BAGUNÇA. Mas, não. Anarquia não quer dizer desordem, pelo contrário, as idéias anarquistas incitam a instituição de uma nova ordem na qual não haveria necessidade de um governo centralizado. Esse é o conceito geral.

          Dentro da doutrina anarquista existem vários conceitos como: princípio da não-doutrinação, humanismo, revolução social, liberdade, antiautoritarismo, ação direta, apoio mútuo, internacionalismo e virtuosidade da revolta. E, ainda, vária vertentes como: anarquismo filosófico, o mutualismo e o anarquismo individualista entre outras.

          Destarte me surge a questão: Como será possível chegarmos a viver em um regime anarquista, se mesmo dentro da doutrina há diversas vertentes que, por vezes, se contrapõem? Será possível que, diante de todas as diferenças e desejos, a humanidade conseguiria viver sob um regime anarquista ou uma só doutrina seja ela qual for?

          A idéia do "bom selvagem", de Rousseau, me faz pensar se o retorno do homem ao seu estado natural realmente seria a melhor maneira de se viver em anarquia? E seria. Contudo também seria necessário que todos os homens vivessem em iguais condições de meio ambiente, ou seja, o planeta teria que ser um paraíso. Não há como negar que as condições ambientais que cada povo estava submetido contribuiu enormente para a evolução social, econômica e cultural de cada população.

          E na medida que foi passando por frio, fome, calor e agressões físicas e psicológicas aquele bom selvagem, lá de trás, começou a desenvolver sentimentos - inerentes à sua natureza -  que estavam adormecidos e foram despertados de acordo com o que aquelas novas situações os apresentavam.

          Imagino como seria possível privar a sociedade de uma forma de governo ou autoridade se, imagine, dentro de uma residência, onde mora um casal, os confrontos de opiniões são inevitáveis e se encerram, diversas vezes, sem um acordo entre as partes. Agora tente juntar quase sete bilhões de pessoas dentro de um regime onde as decisões serão tomadas e praticadas por essa "pequena" coletividade. Como colocar em prática uma doutrina que, por mais bem intencionada que seja, não apresenta nem entre seus adeptos uma coesão?

          Não sou contra a anarquia, apenas enxergo-a como algo longe de ser alcançado. E mesmo que um dia a anarquia fosse implantada, acredito que não tardaria para que as primeiras divergências surgissem, os conflitos reiniciassem, os mais fortes voltassem a se impor sobre os mais fracos e novamente - como em um círculo vicioso - os estados seriam reinstaurados, as fronteiras restebelecidas, novas leis criadas e, assim, novos anarquistas surgiriam e tentariam mais uma vez expurgar os venenos da ganância, da vaidade e do poder da personalidade humana. Será que os de hoje vão conseguir? Infelizmente, eu acho que não. Viva a sociedade "sem" alternativa!

domingo, 3 de julho de 2011

Do líder ao senhor. Do senhor à desigualdade

     Em uma carta escrita aos governantes de Genebra, Rousseau faz a seguinte afirmativa: " Os povos, uma vez acostumados a ter senhores, não conseguem mais viver sem eles." É de fato intrigante quando se reflete sobre a frase do filósofo. Considerando que, mesmo nas civilizações primitivas, houve sempre a figura do líder ao qual toda comunidade seguia -  e aqui não entraremos sob quais méritos se obteve a liderança, mas na figura em si -  pois era necessário a referência desse líder para se estabelecer uma organização de vida social. É fato observado que inclusive no reino animal há a figura do líder, aquele que os demais seguem.

     Entretanto, quando o líder torna-se senhor dos seus, aqueles que antes o seguiam por consentimento próprio, agora se vêm obrigados a obedecer essa liderança por imposição daquele que se tornou, por exemplo, mais forte ou mais rico. Impondo aos demais uma dependência recíproca. Estabelecendo assim uma nova relação social, uma relação de desigualdade social.

     Nicolau Maquiavel, em " O Príncipe", diz: " Sempre haverão no mundo aqueles dispostos a enganar, pois sempre haverão aqueles dispostos a serem enganados." Não posso afirmar se a partir dessa premissa originou-se a figura do "senhor", mas com certeza aquele que primeiro tomou para si algo ou atividade que antes era objeto de uma coletividade sem encontrar resistência, tornando os demais dependentes de suas novas regras, desencadeou um efeito sobre a humanidade tirando-a da ingênuidade natural e lançando-a em uma nova realidade da qual não mais conseguiria se libertar.